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PELA INTERNET - GILBERTO GIL

segunda-feira, agosto 22

Seu Pendrive tem Blutufe?

Crônica mostrando a rapidez da modernidade, difícil, quase impossível, para os madurinhos acompanharem! Não deixe de ler!

Oswaldo tirou o papel do bolso, conferiu a anotação e perguntou à balconista:
-­Moça, vocês têm pendrive?
-Temos, sim.
-O que é pendrive? Pode me esclarecer? Meu filho me pediu para comprar um...
-Bom, pendrive é um aparelho em que o senhor salva tudo o que tem no computador.
-Ah, é como um disquete...
-Não. No pendrive o senhor pode salvar textos, imagens e filmes.O disquete, que nem existe mais, só salva texto.
-Ah, tá bom. Vou querer...
-Quantos gigas?
-Hein?...
-De quantos gigas o senhor quer o seu pendrive?
-O que é giga?
-É o tamanho do pen...
-Ah, tá. Eu queria um pequeno, que dê para levar no bolso sem fazer muito volume...
-Todos são pequenos, senhor. O tamanho, aí, é a quantidade de coisas que ele pode arquivar.
-Ah, bom. E quantos tamanhos têm?
-Dois, quatro, oito, dezesseis gigas...
-Hummm, meu filho não falou quantos gigas queria...
-Neste caso, o melhor é levar o maior.
-Sim, eu acho que sim. Quanto custa?
-Bem, o preço varia conforme o tamanho. A sua entrada é USB?
-Como?...
-É que para acoplar o pen no computador, tem que ter uma entrada compatível.
-USB não é a potência do ar condicionado?
-Não, aquilo é BTU...
-Ah! É isso mesmo. Confundi as iniciais. Bom, sei lá se a minha entrada é USB...
-USB é assim ó: com dentinhos que se encaixam nos buraquinhos do computador.
-O outro tipo é este, o P2, mais tradicional, o senhor só tem que enfiar o pino no buraco redondo.
-O seu computador é novo ou velho? Se for novo é USB, se for velho é P2.
-Acho que o meu tem uns dois anos. O anterior ainda era com disquete. Lembra do disquete? Quadradinho, preto, fácil de carregar, quase não tinha peso. O meu primeiro computador funcionava com aqueles disquetes do tipo bolacha, grandões e quadrados. Era bem mais simples, não acha?
-Os de hoje nem têm mais entrada para disquete. Ou é CD ou pendrive.
-Que coisa! Bem, não sei o que fazer. Acho melhor perguntar ao meu filho.
-Quem sabe o senhor liga pra ele?
-Bem que eu gostaria, mas meu celular é novo,
-Tem tanta coisa nele que ainda nem aprendi a discar...
-Deixa eu ver... Pôxa, um Smartphone! Este é bom mesmo! Tem Bluetooth, woofle, brufle, trifle, banda larga, teclado touchpad, câmera fotográfica, flash, filmadora, radio AM/FM, TV digital, dá pra mandar e receber e-mail, torpedo direcional, micro-ondas e conexão wireless...
-Blu... Blu... Blutufe? E micro-ondas? Dá prá cozinhar com ele?
-Não senhor. Assim o senhor me faz rir. É que ele funciona no sub-padrão,
por isso é muito mais rápido.
-Pra que serve esse tal de blutufe?
-É para um celular comunicar com outro, sem fio.
-Que maravilha! Essa é uma grande novidade! Mas os celulares já não se comunicam com os outros sem usar fio? Nunca precisei fio para ligar para outro celular. Fio em celular, que eu saiba, é apenas para carregar a bateria...
-Não, já vi que o senhor não entende nada, mesmo. Com o Bluetooth o senhor passa os dados do seu celular para outro, sem usar fio. Lista de telefones, por exemplo...
-Ah, e antes precisava fio?
-Não, tinha que trocar o chip...
-Hein? Ah, sim, o chip. E hoje não precisa mais chip...
-Precisa, sim, mas o Bluetooth é bem melhor.
-Legal esse negócio do chip. O meu celular tem chip?
-Momentinho... Deixa eu ver... Sim, tem chip.
-E faço o quê, com o chip?
-Se o senhor quiser trocar de operadora, portabilidade, o senhor sabe...
-Sei, sim, portabilidade, não é? Claro que sei. Não ia saber uma coisa dessas, tão simples? Imagino, então que para ligar tudo isso, no meu celular, depois de fazer um curso de dois meses, eu só preciso clicar nuns duzentos botões...
-Nããão! É tudo muito simples, o senhor logo apreende. Quer ligar para o seu filho? Anote aqui o número dele. Isso. Agora é só teclar um momentinho, e apertar no botão verde... pronto, está chamando...
Oswaldo segura o celular com a ponta dos dedos, temendo ser levado pelos ares,para um outro planeta:
-Oi filhão, é o papai. Sim. Me diz, filho, o seu pen drive é de quantos... Como é mesmo o nome? Ah, obrigado, quantos gigas? Quatro gigas está bom? Ótimo. E tem outra coisa, o que era mesmo? Nossa conexão é USB? É? Que loucura. Então tá, filho, papai está comprando o teu pen drive. De noite eu levo para casa, tchau...
-Que idade tem seu filho?
-Vai fazer dez em março...
-Que gracinha...
-É isso moça, vou levar um de quatro gigas, com conexão USB.
-Certo, senhor. Quer para presente?
Mais tarde, no escritório, examinou o pendrive, um minúsculo objeto, menor do que um isqueiro, capaz de gravar filmes! Onde iremos parar? Olha, com receio, para o celular sobre a mesa. "Máquina infernal", pensa. Tudo o que ele quer é um telefone, para discar e receber chamadas. E tem, nas mãos, um equipamento sofisticado, tão complexo que ninguém que não seja especialista ou tenha a infelicidade de ter mais de quarenta, saberá compreender.
Em casa, ele entrega o pen drive ao filho e pede para ver como funciona. O garoto insere o aparelho e na tela abre-se uma janela. Em seguida, com o mouse, abre uma página da internet, em inglês.
Seleciona umas palavras e um 'havy metal' infernal invade o quarto e os ouvidos de Oswaldo.Um outro clique e, quando a música termina, o garoto diz:
-Pronto, pai, baixei a música. Agora eu levo o pendrive para qualquer lugar e onde tiver uma entrada USB eu posso ouvir a música. No meu celular, por exemplo...
-Teu celular tem entrada USB?
-É lógico. O teu também tem...
-É? Quer dizer que eu posso gravar músicas num pen drive e ouvir pelo celular? Se o senhor não quiser baixar direto da internet...
Naquela noite, antes de dormir, deu um beijo em Clarinha e disse:
-Sabe que eu tenho Blutufe?
-Como é que é?
-Bluetufe. Não vai me dizer que não sabe o que é?
-Não enche, Oswaldo, deixa eu dormir...
-Meu bem, lembra como era boa a vida, quando telefone era telefone, gravador era gravador, toca-discos tocava discos e a gente só tinha que apertar um botão para as coisas funcionarem?
-Claro que lembro, Oswaldo. Hoje é bem melhor, né?
-Várias coisas numa só, até Bluetufe você tem. E conexão USB também...
-Que ótimo, Oswaldo, meus parabéns...
-Clarinha, com tanta tecnologia a gente envelhece cada vez mais rápido.Fico doente de pensar em quanta coisa existe, por aí, que nunca vou usar.
-Ué? Por quê?
-Porque eu recém tinha aprendido a usar computador e celular e tudo o que sei já está superado. Por falar nisso temos que trocar nossa televisão...
-Ué? A nossa estragou?
-Não. Mas a nossa não tem HD, tecla SAP, slowmotion e reset.
-Tudo isso?...
-Tudo.
-A nova vai ter blutufe?
-Boa noite, Oswaldo, vai dormir que eu não agüento mais...

Paulo Wainberg
Escritor, advogado, marido, pai e avô.

sábado, abril 23

Retrocesso Luís Fernando Veríssimo

Retrocesso

O visitante estranhou porque, quando o levaram para conhecer a sala de aula do futuro, não havia uma professora-robô, mas duas. A única diferença entre as duas era que uma era feita totalmente de plástico e fibra de vidro — fora, claro, a tela do seu visor e seus componentes eletrônicos —, e a outra era acolchoada. Uma falava com as crianças com sua voz metálica e mostrava figuras, números e cenas coloridas no seu visor, e a outra ficava quieta num canto. Uma comandava a sala, tinha resposta para tudo e centralizava toda a atenção dos alunos, que pareciam conviver muito bem com a sua presença dinâmica, a outra dava a impressão de estar esquecida ali, como uma experiência errada.

O visitante acompanhou, fascinado, uma aula como ela seria num futuro em que o computador tivesse substituído o professor. O entendimento entre a máquina e as crianças era perfeito. A máquina falava com clareza e estava programada de acordo com métodos pedagógicos cientificamente testados durante anos. Quando não entendiam qualquer coisa as crianças sabiam exatamente que botões apertar para que a professora-robô repetisse a lição ou, em rápidos segundos, a reformulasse, para melhor compreensão. (As crianças do futuro já nascerão sabendo que botões apertar.)

— Fantástico! — comentou o visitante.

— Não é? — concordou o técnico, sorrindo com satisfação.

Foi quando uma das crianças, errando o botão, prendeu o dedo no teclado da professora-robô. Nada grave. O teclado tinha sido cientificamente preparado para não oferecer qualquer risco aos dedos infantis. Mesmo assim, doeu, e a criança começou a chorar. Ao captar o som do choro nos seus sensores, a professora-robô desligou-se automaticamente. Exatamente ao mesmo tempo, o outro robô acendeu-se automaticamente. Dirigiu-se para a criança que chorava e a pegou no colo com os braços de imitação, embalando-a no seu colo acolchoado e dizendo palavras de carinho e conforto numa voz parecida com a do outro robô, só que bem menos metálica. Passada a crise, a criança, consolada e restabelecida, foi colocada no chão e retomou seu lugar entre as outras. A segunda professora-robô voltou para o seu canto e se desligou enquanto a primeira voltou à vida e à aula.

— Fantástico! — repetiu o visitante.

— Não é? — concordou o técnico, ainda mais satisfeito.

— Mas me diga uma coisa... — começou a dizer o visitante.

— Sim?

— Se entendi bem, o segundo robô só existe para fazer a parte mais, digamos, maternal do trabalho pedagógico, enquanto o primeiro faz a parte técnica.

— Exatamente.

— Não seria mais prático — sugeriu o visitante — reunir as duas funções num mesmo robô?

Imediatamente o visitante viu que tinha dito uma bobagem. O técnico sorriu com condescendência.

— Isso — explicou — seria um retrocesso.

— Por quê?

— Estaríamos de volta ao ser humano.

E o técnico sacudiu a cabeça, desanimado. Decididamente, o visitante não entendia de futuro.

Luís Fernando Veríssirno. In Nova Escola. São Paulo. Abril, out. 1990. p. 19.

domingo, outubro 24

EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA

O mundo fora da escola é mais atraente ao aluno do que o ambiente escolar. Por isso, é necessária uma nova postura dos profissionais da escola para acompanhar as mudanças que estão ocorrendo no contexto social. As TICs ( tecnologias de informação e comunicação) estão trazendo uma nova forma de aprender e um novo interesse pela escola e pode proporcionar ao aluno condições de fazer suas próprias pesquisas,levantar questões, interagir e trocar. Por meio delas, cria-se a possibilidade de o aluno aprender “brincando”, aprender pensando de uma forma diferente, construindo o seu próprio conhecimento. Porém, é importante salientar que somente a introdução de computadores nas escolas não é uma solução para os problemas que afligem a educação, nem salvará o ensino. Ele não substitui a inteligência e a criatividade que são características do ser humano. Pode, apenas, as desenvolver desde que haja uma boa mediação. As tecnologias de forma isolada não garantem uma melhoria no processo de ensino e de aprendizagem, é necessário que a escola tenha um plano pedagógico consistente e de qualidade baseado em teorias de aprendizagem de novos paradigmas e uma preocupação na  formação constante do professor”
A modernização não é algo que se consiga simplesmente com a aquisição de computadores. Depende de todo um processo de transformação da escola e dos professores, que devem atuar também como agentes formadores, incentivadores, sendo co-participantes. A importância dos projetos de aprendizagem neste contexto, é que estes por si só, incentivam a criança a explorar e investigar o que lhe interessa e dá ao professor a responsabilidade a tornar os assuntos trabalhados  úteis no processo de construção da aprendizagem. Aliado às novas tecnologias,tendem tornar  mais prazeroso esse contexto, despertando ainda mais a curiosidade e o interesse nas crianças, pois as tecnologias digitais são associadas pelas crianças ao seu mundo lúdico. . .”
fonte: www.diaadiaeducacao.sc.gov.br Educacao_e_Tecnologia